terça-feira, 14 de dezembro de 2010

1969 - 2010

Há tempos eu não tirara férias. Pelo menos, aquelas valeram por todo o tempo que eu passei sem isso. Resolvi viajar. Eu sempre adorei viajar de carro, escutando o barulho da estrada. Organizei minha mochila, fiz uma ligação e saí de carro, basicamente sem rumo pelas estradas do Texas.

Nada como bons lugares a se percorrer, belas paisagens e uma amável companhia. Alice foi uma mulher que cruzou meu caminho em um dia que eu andava sozinho pela areia das praias, então, nos conhecemos. Ela fazia o mesmo que eu pelas areias, e exatamente como eu a conheci não vem ao caso. O fato é que nós nos dávamos muito bem juntos e formamos um casal divertido o suficiente para viajarmos.

Minhas viagens em carro eram sempre dotadas de adrenalina. Pisar fundo em um Mustang 1969 é algo extremamente prazeroso. Dirigir aquele carro em si já é algo muito dotado de prazer. O veículo sempre fora todo lindo, e eu não costumava usá-lo na cidade, então ele era bem preservado. Tinha um motor notável, rodas cromadas e tudo mais que o tornava símbolo de um estilo de vida de 40 anos atrás. Esqueci de falar sua cor, meu Mustang era um Preto bem fosco. A ausência de luz não foi feita pra brilhar.

Alice e eu passamos juntos pelas redondezas de Austin, Dallas e Houston. Três belas cidades que só conhecíamos nas fotos. Mas nossa paixão sempre fora mesmo as estradas, o barulho do vento e do carro quando o som estivesse desligado. Alternávamos entre escutar os gritos do motor e o bom e velho rock da época do carro. A vida sem música é algo que eu não consigo imaginar.

Era uma experiência única para mim. Andar a sessenta milhas por hora nas estradas desertas do Texas com uma garota abraçada em você. Eu tinha que dirigir com um braço só. Algumas noites passavam com nós dentro do carro. Em um carro conversível acostado entre os matos secos, em plenas noites frias do Texas, transar é algo inédito. Porém, naquela época do ano algumas noites eram frias demais para se dormir em um carro e, por vezes, dormíamos em pousadas de estrada. A gente sempre comia também pelos bares de estrada, quando não tínhamos qualquer coisa dentro do carro. Alice preparava excelentes sanduíches de atum.

Às vezes, eu parava o carro sob uma sombra qualquer, já cansado, e ríamos muito das histórias e besteiras um do outro. Eu cochilava e acordava com ela dirigindo meu carro. Mais a frente, beijos e mais beijos em pleno movimento das estradas.

Sem drogas ou álcool, nós percorremos ainda muitas vias, vimos belos arbustos e passamos pelo litoral do Texas. Eu adorava quando ela tinha coragem de dirigir, era divertido. Tive momentos memoráveis e relembrei o quão gostoso era viajar. Ainda mais, naquele veículo com toda a sua pose agressiva e confortável. Nunca tive a menor dúvida, naquela viagem eu vivi minha maior adrenalina romântica.