segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O negociador (Jaime)

Eu estava indo ao Vadinho, informante. Tinha marcado com ele em um beco, longe do seu barraco, ao pé do morro. Quando cheguei lá, o desgraçado não estava. Bom, eu não estava fardado, e quase ninguém me conhecia ali. Resolvi subir o morro até seu barraco. Um carro da polícia militar estava estacionado do lado de fora da casa do marginal. Passaram-se em torno de cinco minutos e o sujeito saiu de lá algemado por dois policiais:
- Opa, sou o detetive Jaime Frota - mostrei o distintivo -, tenho que falar em particular com o sujeito.
- Tá certo, permito o senhor ter meia horinha com ele.
- Obrigado, não demorarei.
Puxei o sujeito pra dentro do barraco.
- Por que está sendo preso ?
- Porque no comecinho de abril eu tava em outra função. Sabe como é, né? Tava metido aí pelo comércio.
- E desde quando comércio dá xadrez?
- É que eu tava metido com translações, sacou? Dinheiro pela mercadoria. Tava aí pelas fronteiras da vida.
- Contrabando?
- Shhhh, fala baixo. Que é isso! Não, não, contrabando é uma palavra muito forte. Eu tava como... executivo de fronteiras.
- Hahaha, contrabandista agora virou “executivo de fronteiras”, foi?
- O senhor me entende, capitão.
- Entendo... sim, mas não foi disso que eu vim falar com você. Vamos ao que importa, cadê o “tatu”?
- Calma, não é assim não, eu vou te dizer cade ele, e não vou ganhar nada em troca?
- Claro que vai, aqui está a grana.
- O que que eu farei com isso aí na cadeia? Porque é pra lá que eu estou indo agora. Os caras tão aí fora, esqueceu? Vão me levar, eu tô cercado. Como é que eu ia adivinhar? O senhor vai ter que me tirar dessa, se não, eu não falo onde ele tá.
- Tá certo, vou ver o que eu faço.
Mexi meus palitos pra ajudar o sujeito:
- Os colegas aí da “PM” vão me desculpar, mas por conta disso, não poderão levá-lo.
- Entendemos, tudo ok.
Inventei uma história qualquer, mas como eu era superior, colou. Na polícia tem muito disso, o que um superior fala acaba virando verdade diante de um inferior que prefere não questionar para não se prejudicar. Aliás, não é só na polícia.
E eu, é claro, vez por outra abusava disso.
Entrei no barraco e falei com Vadinho, salvei a pele do sujeito dessa vez. Dei-lhe o dinheiro combinado e tive a informação. O “tatu” da história, chamava-se Fabrício Lima, é um traficante que eu já estava atrás há muito tempo.
Peguei minha moto e saí dali. Na manhã seguinte, eu iria atrás do Fabrício.

4 comentários:

  1. Interessante.
    Flagra da vida cotidiana em um subúrbio da cidade grande.

    Abraço!

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  2. Gostei (:
    bem legal seu texto. O que eu mais gostei seu.
    Beijos ;*

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  3. Conto policial de qualidade. Retrata muito bem certas atitudes de policiais do cotidiano.

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  4. E ele pega o tal Fabrício?
    VocÊ devia tentar escrever em capítulos, a hitória desse Jaime. É uma personagem interessante :}

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