sábado, 1 de novembro de 2008

Comodidade.

Acordei, um barulho de uma panela caindo na cozinha, me levantei e fui até. Nathália fritava "bacon", e, apesar do bom cheiro, a cozinha estava toda engordurada, chega se sentia. Estranho, ela sempre acordava depois de mim. Sempre eu que faço os cafés de nossas manhãs, ela raramente vai pra cozinha. Após o lanche, ela tomou banho e saiu. Parecia apressada, afirmou que iria passar a manhã no salão e almoçaria na casa da mãe e já estava tudo combinado com sua mãe. Notei algum tom de insegurança ao falar sobre o almoço.

Pouco depois de ela bater a porta, sua mãe ligou nos convidando para comer fora. Ou seja, ela havia mentido para mim, quando disse que almoçaria com a mãe. Recusei o convite da velha e interfonei para o Nonato da portaria, pedindo para que ele a segurasse por três minutinhos. Eu já vinha estranhando algumas atitudes dela, essa seria a hora certa de saber se minhas suspeitas estavam certas. Foi o tempo em que eu peguei a chave do carro, vesti uma camiseta qualquer e saí do apartamento.

O elevador estava no térreo, desci de escadas. Suando frio, mas não sei bem se era por conta do exercício, não lembro a última vez que desci escadas tão rápido. Entrei no carro e consegui alcançá-la. Segui-a por um tempo, ela atravessou a cidade quase toda, até que parou em frente a uma casa. De lá, saíram duas crianças e um homem alto. Ela foi ao encontro, e os quatro se abraçaram. Depois, ela abraçou individualmente cada um e demonstrou afeto por todos eles. Beijou o homem, e entrou na casa de mãos dadas a ele.

Só eu sei a dor que eu senti na hora. As lágrimas no volante escorriam até cair sobre o banco. Passei alguns minutos com o carro parado em frente a casa. Meu racionalismo foi maior, tive que por tudo na balança. Eu era um homem beirando os cinqüenta, casado durante 12 anos, com dois filhos. Eu não teria mais tempo de construir tudo de novo. Passei mais alguns tempo tentando entender tudo, quase que em estado de choque, eu diria. Entretanto, minha vida não mudaria nada se eu simplesmente optasse por esquecer. Pisei no acelerador e preferi não ver mais nada, continuei sendo um bom marido. Só que desde então, tenho precisado de uns comprimidos para dormir.

6 comentários:

  1. Para mim, esse texto fala sobre aquilo que está debaixo dos nossos narizes e ninguém consegue enxergar. Fala sobre o dinamismo e a metamorfose de uma relação conjugal, onde, mais uma vez, as aparências enganam.

    abraço!
    (postei o conto "Fernanda" no meu)

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  2. É uma coisa bem cotidiana que mostra uma coisa mais rotineira ainda: O medo de sofrer. É uma coisa comum a qualquer ser humano, mesmo aqueles que se julgam frios e alheios a qualquer tipo de sentimentalismo.

    Gostei. :D

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  3. acho que, mesmo com anos de casados, anos de convivência, anos de amizade... não dá conhecer a essência de alguém.
    Podemos representar vários personagens, em busca de um bem particular, ou até social. Só nós mesmos conhecemos nosso interior ;x

    é por isso que eu não confio em ngm.
    auhsuahs
    brinks. ;*


    ta massa, amor (:

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. "Minha vida não mudaria nada, se eu simplesmente optasse por esquecer."

    Às vezes nos pegamos lembrando de coisas que optamos por esquecer!
    Gostei bastante do texto, cara. Abraço!

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  6. e aí?! Ele continuou sendo um corno feliz?

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