terça-feira, 11 de novembro de 2008

Psicose

Tenho andado cansado. Durmo tarde todos os dias, e sou obrigado a acordar cedo. Não rendo muito ao dia. Ando estressado, com uma insistente psicose, uma extrema inquietação. Ainda assim, algo me relaxa o suficiente para agüentar os dias que virão, meu hábitos noturnos. Não vivo sem eles.
Vou para a janela da varanda todas as noites, simplesmente, para apreciar a vista. A rua pára. Nenhum pneu ousa girar pela rua. Ninguém arrisca-se transitar. Perigo. A rua é deserta, e é esta característica que a torna bela neste horário. Alguns dias, a lua resolve aparecer, e completar a paisagem. Hoje eu tenho sorte, ela está cheia, lá no alto. Seu brilho some e reaparece várias vezes, toda vez que é coberta pelas nuvens negras, que também adoram andar por aqui. Cruzam com a lua, dando uma idéia de movimento.
A luz do poste incide sobre as árvores e provoca sombras no asfalto. O vento bate forte, joga meus cabelos para o rosto, mexe as roupas no varal, mexe as árvores, mexe os galhos, as folhas. As sombras no asfalto se mexem. O barulho dos galhos em movimento me fascina. A rua, a lua e a noite em si me fascinam. Vem vindo um gato pela rua. Ele é branco, tranqüilo. Olha só para o se caminho, não se importa com mais nada. Ele, assim como tudo aqui, vem sendo observado pela coruja, de cima do telhado do vizinho. As luzes lá estão apagadas, eles não devem ser como eu.
Uma imensa nuvem esconde a lua. O gato para de andar, a coruja passa a observar algo no meio das roupas. O vento torna a bater forte. As roupas no varal balançam, dançando junto aos galhos das árvores. É estranho vê-las se balançando desse jeito. Tem uma sombra maior ali no meio, parece alguém.
Vejo claramente uma cabeça e dois braços ali. Se ali for realmente alguém, o sujeito está olhando para mim. Parece me encarar. As roupas continuam se mexendo, aquilo é a única coisa que está parada ali, no meio delas. Continua me encarando. Estou com muito medo, estou sozinho em casa.
A sombra continua olhando para mim. Não consigo ver seus olhos, nem seu rosto. Só sei que há alguém ali. Algo prende minha visão ali. Não consigo parar de olhar, por mais que eu tente. Tento balançar minha cabeça, desviar o meu olhar, mexer meus pés. Estou imóvel. Alguém está me forçando a olhar pra lá. Não consigo parar de olhar. Não consigo parar. O vento circula agora pela casa, movendo cortinas. O vento sopra atrás de mim, provoca arrepio.
Até que consigo fechar os olhos, e quando torno a abrir-los, não há nada ali. Foi tudo um devaneio de minha mente, estou precisando de um bom sono. Estresse mental, vou para a minha cama.
- Boa noite.

6 comentários:

  1. Conto muito bom, expressivo, enxuto. Alude às conseqüências de uma vida cansada, ordinária, mecânica e difícil em que todos nós estamos chafurdados nos dias modernos.

    Abraço!

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  2. Este conto me fez lembrar um pouco da minha infância... eu adorava olhar a chuva pela janela da sala, ou obervar os barulhos da noite quando perdia o sono.
    Visite o meu blog e veja se gosta das minhas histórias, ok? ;)
    Abraço!

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  3. Laura, o acesso ao seu blog tá bloqueado, não consegui entrar...
    Deixa aí um e-mail de contato ou alguma coisa, que eu tento falar melhor contigo. ;D

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  4. Conto/crônica (?) Muito bacana, e que mostra uma realidade (não é algo fantasioso, e isso dá um certo quÊ de graça :D)
    Gostei ;)
    Só uma pequena crítica (sempre tentando melhorar, claro): Achoq ue no começo algumas palavras se repetiram, dando uma sonoridade cansativa Oo' ficaria melhor se explorasse mais sinônimos! :D
    beijos *:

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  5. Xupadas, esse eu realmente gostei!
    Tua linguagem tá muito mais dinâmica, menos cansativa. O texto tá rápido, e, à medida que você vai lendo, você entra cada vez mais na cabeça do narrador.
    Os detalhes observados não são meros detalhes, eles configuram o ambiente e passam perfeitamente a imagem da situação.
    Um beijo.

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  6. Reparando na data esse Estresse mental não seria devido ao tal 'vestibular', eu também tava desse jeito nesse período. O texto tá bom sim, não tirei o olhar da tela ;)

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